Nélida Piñón

Homero e euNélida Piñón
Academia Brasileña de Letras (Brasil)

Há séculos converso com Homero. Filiada ao poeta por tradição e por coerência civilizatória, nada nele me é estranho. Reivindico a seus personagens, sem qualquer distinção de hierarquia, que me falem de suas agruras, de suas idiosincracias, uma vez que fui educada para entendê-los.

Afinal, o drama que os acossa, na Ilíada ou na Odisséia, e que os levou à guerra e à aventura respectivamente, me é familiar. Eles comem comigo à mesa, reparto com eles o meu repasto. Sou, por isso mesmo, capaz de antecipar-me aos fatos que eventualmente eles me contassem hoje, caso vivessem no Rio de Janeiro e na suposição de eu desconhecer-lhes as histórias.

Assim, embora milênios me separem de Homero, ele é um amigo entranhado, a quem não envio exatamente um fax, ou mesmo e-mail, mas que coloco na categoria de quem há muito deixou de ser original para mim. E não porque com tais palavras lhe esteja roubando a descomunal grandeza, mas é que também eu faço parte dela. Posso bem, em nome de legado histórico irrenunciável, conclamar em alto som que sou herdeira da civilização ocidental que ele ajudou a engendrar. E que, portanto, nesta condição inigualável, frequento os salões e as alcovas da civilização com a autoridade de quem nasceu entre suas paredes, em meio aos ruídos generacionais e sucessórios.

Como brasileira de boa cepa sou  íntima de Homero. E quando menciono o Poeta que a cada manhã me povoa a imaginação, falo nele e nos demais que o sucederam na longa batalha da criação literária.Daqueles que fizeram da literatura um instrumento liberador na escala dos desígnios civilizatórios. Razão de reivindicar, e onde quer que esteja, mesmo na selva amazônica, que tudo que falo, faço, escrevo, penso, traz a chancela do mundo grego, do mundo romano, do islâmico, hebraico, cristão, de todos os universos vividos pelos homens ao longo da crucial trajetória pela terra. Reivindico, então, de qualquer poeta, de qualquer prosador, de qualquer filósofo, o direito de frequentar suas páginas e de dizer que elas ainda agora maculam minha consciência e me imprime a marca de um gosto estético, ao qual não sei como renunciar. E que, como manutenedora de semelhante legado, eles só existem se também existo. Se, em terras brasileiras, defendo e expresso suas doutrinas, seus presságios, seus devaneios, suas intuições, a capacidade de pensar e inventariar o mundo.

 

Enquanto cada qual perdura na memória coletiva graças a mim, ao fato de ser eu uma brasileira nascida nos trópicos, embora filha e neta de ibéricos, de celtas, de visigodos, que, junto a outros brasileiros, nos empenhamos com que eles, em especial Homero,Dantes, Camões, Cervantes, Shakespeare, nos debruçassemos sobre suas obras e as recitássemos em voz alta, se fosse o caso. E que, mesmo no silêncio da masmorra e do catre, zelamos por seus alegatos, por suas epifanias, por  suas sagradas liturgias. E que, desde a infância brasileira, conhecemos suas obras, repetimos seus conceitos, contamos suas histórias, representamos suas simbologias, disseminamos seus mitos.

Estou certa de que sem meu empenho pessoal, estariam todos soterrados no fundo da terra. O que restaria deles fora da linha da minha razão e do meu coração. Ninguém teria acreditado que foram eles que engendraram no passado o saber humano.

Sendo, pois, responsável por sua memória, cuido pessoalmente de Aquiles e de Ulisses, de cada criatura heróica ou abjeta que Homero esboçou e que os aedos, como poetas de uma  memória prestes a esfumaçar-se, preservaram desde os primórdios gregos. Assim, sou responsável pela aventura literária que o narrador fabulou e que, ainda hoje, nos persegue. E me pergunto como um autor,de que latitude seja, ousa conceber um relato se não leu a Iliáda, se não chorou com o rei Príamo ajoelhado diante de Aquiles, o arrogante filhe de Tétis, a suplicar-lhe que  devolvesse aos troianos os despojos mortais do filho Hector, aniquilado pelo destemido grego? E quem, ao aventurar-se pelo astuto Ulisses, de volta a Ítaca, e cujo coração de estadista aprendera a preservar seu reino aniquilando os inimigos com armas superiores as dos adversários, não tentou trazer para as suas paginas contemporâneas o sentido da imortalidade que Homero empresta ao seu herói?

Quem, ao iniciar seu romance, entregue, pois, ao dissabor da criação, não buscou em algum recanto da  consciência, certa analogia com Homero, só com a ilusão de imprimir ao seu personagem uma feição mítica? Quem não sonhou em comparar-se com algum  grego trágico, com um  romano libertino e sábio ao mesmo empo, com algum  autor de língua romance, com todos que chegaram a nós com o peso da posteridade? Quem, dentre todos nós, na argentina ou no Brasil, não se reconhece orgulhoso de uma cultura que elaborou gênios literários e de que somosfatalmente usuários e filhos diletos?

Nesta perseguição ancestral, que me leva ao universal, também sou filha da Bíblia, do Torá, do Corão. E não faz falta fazer incursões teológicas para ler qualquer de suas páginas e convencer-se de que sua imaginação de autor brasileiro alimentou-se das  aflições e dos enredos de suas páginas. que outras há mais pungentes, masi emocionantes, mais aliciadoras? Pois por mais que nos esforcemos por livrar-nos destas influências fundacionais, estamos impregnados até a medula de suas aventuras.

O que fazer em nossos dias, com a literatura que hoje nos sobra, e que possa se comparar à invenção do moneteismo, um feito histórico que quebrou o paradigma da visibilidade e instituiu a crença no invisível? E que, por conta da poética do deserto, das tendas, das ventanias, obrigou o homem a insurgir-se contra o destino tribal, submisso, distante ainda do conceito da representação e da metamorfose.

Sei,assim, que minha escritura, independente de sua dimensão literária, impregna-se inequivocamente de uma história que não escrevi. A ponto mesmo de eu reconhecer que nem faz falta que eu narre para a literatura existir.E isto porque todas as histórias, jamais escritas, chegam-me abundantes e pródigas, uma combinação redundantes que devo preservar. E que me pertencem por uso capião. A obra de Homero é uma propriedade minha, embora não tenheu título lavrado em cartório público.

Talvez convenha que elabore modesta fantasia, a guiza de exemplo: meu avô Daniel, a caminho do Brasil, vindo da galícia, terá certamente pisado nas páginas de uma história, aqui representada por um pedaço de terra. Nesta lavoura, que meu pai Lino terá herdado, ele plantou nesta história um pé de milho que desabrochou de tal modo que eu, ao seguir pisando nesta história em nome da prosperidade familiar, ali fiz uma casinha de sapé para abrigar a história.Portanto, só ai, em uma hipótese talvez forçada e necessariamente confusa, três gerações de minha família, que bem poderiam converter-se em mil, pisarem o sol sagrado da  grande narrativa, que poderia ser de Homero ou da neta de Daniel, que sou eu. Consequentemente, esta narrativa, embora tivesse procedido do Homero, passa a pertencer a quem cuidou dela, como se cuida da lavoura e instalou-se nela para sempre.

E acaso que dúvida existe sobre um  direito cuja origem perdeu-se na noite dos tempos e que se alastrou por todos os rincões da terra a ponto de nos fazer acreditar piamente que cada história escrita, cada invento humano, tornaram-se inquestionavelmente patrimônio de uma civilização e, passível assim de influenciar tudo que se tenha feito no passado ou se venha a fazer sob vigência da modernidade.

Afinal, não se pode dar um único passo dentro das próprias páginas do seu livro sem antes pagar tributo aos  que nos precederam no tempo.O que nos torna necessariamente servos da credulidade. Da crença da vocação peripatética da cultura de propagar-se e, de fazer de cada um de nós devedor do patrimônio universal.

Há muito, por exemplo, atribuí a Machado de Assis, magnífico escritor das nossas Américas, uma sintonia perfeita com Homero, para não mencionar Goethe, Stern, Cervantes, e quem mais fosse.Embora sabendo que ambos só tivessem em comum o fato do brasileiro ser legítimo sucessor da arte narrativa que Homero ajudou a criar e que ainda hoje nos sustenta, e de ser o narrador grego razão da  própria existência civilizatória.

Com este simples preâmbulo afirmo que somos universais por sermos quem somos. E que o diálogo com o outro se estabelece mesmo quando não falamos, não nos damos conta do discurso nosso estar sendo frequentemente atravessado por misteriosa multiplicidade misteriosa embutida no cerne mesmo do que afirmamos e sabemos.

Al final, como brasileiros, vinimos de todas las partes, no somos bárbaros, extranjeros. Los fulgores que integran nuestro ser y el misterio que lo circunda son latinos e ibéricos. Somos múltiples, dispersos, mestizos. Por fortuna para nosotros fuimos visigodos, íberos, celtas, griegos, romanos y árabes, antes de ser iberoamericanos. Mediterráneos antes de ser atlánticos, antes de cruzar las columnas de Hércules, antes de que las naves portuguesas y españolas se lanzaran al encuentro de la línea del horizonte que amenazaba con tragárselas.

La historia de este continente nos induce a rastrear en cada uno de nosotros rasgos fenicios, godos, cartagineses, semíticos. Una argamasa étnica tan compleja que nos toca indagar cuál fue el pueblo ausente en nuestra formación, qué nos ha faltado para ser de hecho iberoamericanos.

Y, como todos iberoamericanos, somos hijos de este universo abrasivo, cuna del encuentro entre bárbaros y civilizados y, fruto de esta fermentación fáustica, de intervalos anímicos, bullen en nosotros productos antiguos resultantes de esas culturas que, en la orilla del mediterráneo, entablaban la batalla entre la vida y la muerte al tiempo que tejían la policromía luminosa de la poesía.

Somos tantos y todos. Debido a esta grey ávida, cuestionamos los ingredientes con los que se forjan hijos y naciones y favorecen el caos de la sangre y la memoria. No obstante, en tanto que herederos de un espíritu predador que ambiciona la carne ajena, seguimos construyendo las metáforas con las que frecuentar el teatro humano.

Como hijos de todas las navegaciones, se guarece en nosotros el recuerdo de los viajes europeos, africanos, orientales, compulsivos y traicioneros. Junto a los aedos, a los chamanes y a los amautas, citamos los nombres de Sócrates, Ovidio y Virgilio. Pero para llegar al futuro, que somos nosotros, aún hoy sufrimos el peso de la conquista y de la ruina, de la modernidad que nos impone el enigma y el conocimiento.

En la condición de poetas que siempre fuimos, fertilizamos el presente interrogando los pormenores de nuestra génesis. Gracias a un repertorio construido hace cinco siglos, América, perseguida por la desfachatez utópica de Europa, renegó del ideario metafísico, maldijo veladamente los ejercicios espirituales y rechazó el camino de la santidad. Bajo la práctica de la lujuria, de la cual afloró su mestizaje, se liberó del camino alienante que intimida a los herederos dilectos de la utopía.

Como consecuencia, la figura americana que destaca en ese horizonte no es utópica. Antes al contrario, su perfil niega los principios consagrados por los descubridores, carece de una ideología que revele su sustrato, su pecado original. ¿No es cierto acaso que la consagración de la utopía es incómoda?, ¿qué nos aparta de la realidad construida por el continente latinoamericano en medio de conflictos y ambivalencias?

Porque, aun si nacemos de utopías dilacerantes, ¿por qué deshacer los lazos que nos unen al imaginario americano?, ¿por qué reducir los riesgos de una actuación social quizá desastrosa, en pro de un modelo que no es nuestro?, ¿por qué evitar zambullirse en modelos autóctonos y descubrir al fin la dualidad real de nuestro ser?

La verdad latina y la consigna griega que, junto a otras contribuciones étnicas, subsisten en América, nos precipitan a vivir con negligencia el espectáculo humano. Como si no nos fuera dado alterar una situación destinada a un desenlace imprevisible o responder por culturas que hablan por nuestra boca, nuestro corazón y nuestros genitales. Mas, ¿no será esa convicción un simple pretexto para ser históricamente distraídos, indisciplinados, caóticos y tener escaso aprecio por la ley magna y la causa pública? ¿No se tratará de un comportamiento perpetuado en el inconsciente colectivo iberoamericano a partir de aquellos visigodos sabidamente incompetentes e ineficaces?

Hace mucho que aprendimos que la cultura, en la cual nos sumergimos, traduce una manera particular de relacionarnos con el mundo. Interroga en qué circunstancia el pensamiento y la acción, la alegría y la compasión, abandonan los límites de la propia historia para sembrar, en direcciones contrarias, nociones reales de la vida y la discordia. Establece el embate impuesto por las fuerzas procedentes de la realidad mestiza en falsa oposición con la cultura heredada. Un movimiento pendular que cuestiona la propia universalidad anhelando ser legítimamente universal.

La América ibérica se presenta al mundo rodeada de marcas iconográficas. Esos rasgos, asimilados o impuestos, son representaciones de la realidad. Confieren una dimensión emblemática a nuestra manera de amar, de gritar, de escondernos tras las máscaras y los estereotipos. En todos los rincones nuestros el Mediterráneo está simbólicamente presente. Persiste en cada recodo americano la influencia del mar —mare nostrum— que perfiló la índole de nuestro ser, moldeó el genio latino-ibérico y marcó los fundamentos de la civilización. Sobre todo a través de aquellos íberos que, apegados al paisaje, a la aldea, a la cotidianidad del campesino, nos transmitieron un individualismo empedernido cuando, hace 3000 años, ocuparon la península y soñaron con bordear un día las márgenes de alguna América.

Junto con los celtas, ellos convirtieron la región en una encrucijada de civilizaciones. Feliz confluencia étnica que consolidó entre ellos el amor a la soledad, la iconoclastia, la imaginación exaltada y la atracción por la magia. También los romanos aportaron la lengua, la ley, la filosofía, calcada de los griegos. Se integran en esa cultura el estoicismo romano, las filigranas árabes y la teología judaica, culturas que indagan a quién debemos la invención narrativa.

¿Acaso a Colón, que registró en su Diario los dictámenes de lo cotidiano y cuya meticulosa escritura transcribió los contratiempos de su aventura primero en las líneas sinuosas de los mapas hasta darles vida? Un subterfugio verbal que asegura a los sucesores una narración con foro de insubordinación y singularidad. Para que bajo la supremacía de la fabulación, las crónicas, con barniz de ficción, reforzasen las excelencias y las miserias de aquella epopeya, representasen la soledad americana y la amorosa atracción por el verbo hechizador.

Sin embargo, no fueron los ibéricos los únicos celosos de los enigmas americanos. Guamán Poma de Ayala, noble inca del siglo xvi, también se incorporó a la senda ibérica. Ciñéndose a la regla de la invención, construyó una visión mestiza del continente. En una carta a Felipe II, escrita a lo largo de treinta años, registró la lúgubre melancolía de su pueblo. Una tristeza que impregnará en el futuro a intérpretes del mismo linaje espiritual, como Juan Rulfo y José María Arguedas.

En su documento, ante la inevitable alianza con los españoles, Guamán, arrogándose el derecho de confiar en los efectos persuasivos de la palabra, aspira a liberarse del sentimiento de la fractura histórica sufrida. Así, sin renunciar a la memoria de su raza, llena centenares de páginas y reconoce que su litigio es justo.

El mismo mestizaje se refuerza con la melancolía portuguesa, cuya política de alianzas matrimoniales contagió a la nobleza europea de ese sutil rasgo poético del temperamento humano. Así, cuando el portugués Don Sebastián falleció en Alcazarquivir mientras se aguardaba en vano su regreso a Lisboa, se implantó en el espíritu luso y brasileño un sentimiento conocido como sebastianismo que, a través de la infinita esperanza, ampara a los defensores de las causas perdidas.

Tan pronto como el jesuita y canario José de Anchieta llegó a Brasil, evangelizó a los indios por medio de precarias imitaciones teatrales, adoptó entre nosotros la poética del simulacro y, apropiándose de la ilusión como tema, implantó en el sustrato de los primeros brasileños la estética de la carencia y de la magia, la vocación antirrealista. Mediante tal juego de representación se fue forjando un imaginario que, abastecido de fantasía, elaboró un sistema social menos rígido y jerarquizado.

Bajo el signo de estos paradigmas que brillan en el continente, la carga y la fascinación de tal genealogía nos devuelve fatalmente al universo helénico, latino, al extenso mar humano en fin, al camino de la misteriosa modernidad donde descansan nuestras señas de identidad.

Señoras y señores: Describir la apertura hacia la universidad de esto continente e además decir quiénes somos, resulta insuficiente, lleva el verbo a reverberar, a errar. Nos lleva a decir que vivimos lejos, pero próximos al origen, a la supuesta génesis. A decirles que ser ibérico ó universal es supuestamente no ser ibérico y universal. Es ser, en cambio, alguna cosa que se coloca en su lugar y que se acepta como evidencia de nuestro portentoso mestizaje.

Por otro lado, cuando esta porción ibérica y universal, venida de Europa y del mundo, se ausenta de nosotros, ella nos falta, crea vacíos y huecos dramáticos en nuestro ser. Y tal es la falta que se siente que pronto salimos en busca de la materia que nos identifique de nuevo con España, con Portugal y con los demás pueblos que integran esta amalgama.

Sin embargo, esta carencia, tan presente en nosotros, nos impulsa a crear, a vivir, a adentrarnos en la porción mágica que susurra el misterio del arte y de la muerte. Nos fuerza a meditar que, a pesar de habernos desvinculado a lo largo de los siglos de aquellas ordenaciones impuestas por los conquistadores españoles y portugueses que preveían erigir ciudades, comandar el juego de la luz y las sombras, sembrar características, muchas de ellas están aún hoy presentes en nosotros cuando amamos, reímos, nos excedemos. Quién sabe cuándo somos ufanos, histriónicos o cervantinos. Cuándo nos toca retratar el ridículo humano o cuándo somos milenaristas, como el brasileño Antonio Conselheiro y sus seguidores que, a finales del siglo xix, tras el colapso de la monarquía y la pérdida de la barba blanca de nuestro emperador Pedro II, trataron de construir su otro reino en la Tierra en los confines de Bahía, al norte del Brasil.

Una ordenación que, al atraernos a su centro de gravedad, nos confundió y aún ahora nos hace oscilar entre la falsa austeridad y la carnavalización de la realidad; el fluir del melodrama y el escarnio; la turbulencia, la violencia y la cordialidad; el cinismo y el exceso de un optimismo que nos sumerge fatalmente en la esperanza. Tal vez nos estimuló a esquivar del derecho a reclamar y a defendernos como conviene; a esconder el alma del continente latinoamericano tras una falsa apología de la alegría, de los alborozos pasajeros; a camuflar la apariencia mestiza bajo el escudo de patrones estéticos importados. Un mestizaje que, al final, se somete conmovido ante el uso constante de la materia poética capaz de iluminar incluso la cotidianidad más miserable.

Con todo, en nuestra condición de ibéricos y mestizos no somos edificantes, ni santos, ni puros, ni históricamente inocentes. Nos falta la sumisión a la ley. Nos falta la acción universal que congrega cantidades dispares y las puede equiparar para el bien común. En compensación, la singularidad que nos modela es de tal magnitud que nos sobra en abundancia el sentimiento epifánico con el que nos proclamamos universales y cosmopolitas, razón esencial de que hayamos venido de tan lejos y estemos hoy tan cerca de todos ustedes. Y escribamos nuestros libros como si hubieran sido escritos por Homero, Virgilio, próceres de nuestro imaginario.